Compartilhar


PediNews, a newsletter oficial da SOPERJ
 ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌

Maio/Junho/Julho de 2025 | Edição 03/2025 🕘 Tempo de leitura: 20 minutos

Escolhas em tempos incertos

Enquanto velhas doenças retornam e novos vírus se espalham, seguimos escolhendo: vacinar, informar, cuidar. Nesta edição, entre sepse e silêncio, reborn e residência, a pergunta persiste: como cuidar sem se perder? Talvez a resposta esteja menos nas condutas e mais nos vínculos.

NESTA EDIÇÃO

Atualiza aí 📢

- ANS amplia acesso ao Nirversimabe: veja quem tem direito

- Meningites em pauta: proteção atualizada no SUS e na prática clínica

- COVID-19 em crianças: o que muda na vacinação em 2025

Ler agora 👆

Pediatria ao Redor do Mundo 🌍

- Sepse pediátrica em 2025: menos rótulos, mais decisões inteligentes

- Fechar ou esperar? O dilema do canal arterial revisitado

Ler agora 👆

De Olho no RJ 👁️

Óbitos por Oropouche no RJ: o que sabemos até agora sobre a a fisiopatologia da doença?

Ler agora 👆

Pausa para Refletir 💭

A solidão e os bebês reborn

Ler agora 👆

Saindo do Forno 🍞

O que você precisa saber das últimas evidências em pediatria.

Ler agora 👆

Do Outro Lado da Mesa 🗨️

Parentalidade positiva: o cuidado começa em casa

Ler agora 👆

Manual (Nada) Oficial do Residente: 🩺

Cuidar de si também é parte da residência: o recado da R2 para o R1

Ler agora 👆

Prata da Casa 🏅

Celebrando as conquistas, publicações e projetos dos nossos colegas

Ler agora 👆

Educação Continuada SOPERJ 📚 

- Videocast com as Dras. Maria Elizabeth & Anna Thereza: como se constroem evidências na Pediatria

- Raciocínio clínico: doença exantemática e seus diagnósticos diferenciais

Ler agora 👆

E aí, doutor(a)❓

Laringotraqueite em tratamento com adrenalina e corticoide, sem melhora do estridor. O que investigar? 

Ler agora 👆

Caleidoscópio 👓

Bebê reborn

Ler agora 👆

Agenda Pediátrica 🗓️

Fique por dentro dos próximos eventos

Ler agora 👆

📢 ATUALIZA AÍ

Nirsevimabe no Rol da ANS: mais grupos cobertos! 

A ANS atualizou a cobertura obrigatória do nirsevimabe (anticorpo monoclonal para prevenção do vírus sincicial respiratório, VSR) no Rol da Saúde Suplementar. Agora, além dos prematuros e cardiopatas, crianças com menos de 2 anos com algumas comorbidades também têm direito ao medicamento pelo plano. Essa mudança vale desde 5 de maio de 2025, com base na Resolução Normativa ANS nº 632/2025.



💬 O que é a ANS e por que você, pediatra, deve ficar de olho?

A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) é o órgão que regula os planos de saúde no Brasil. Cabe a ela definir o que os convênios são obrigados a cobrir, fiscalizar as operadoras e garantir que os usuários (nossos pacientes) tenham acesso a cuidados de qualidade. Quando a ANS inclui um novo procedimento ou medicamento no Rol de Coberturas Obrigatórias, isso significa que os planos de saúde devem custear essa oferta, sem carência ou custo adicional, desde que os critérios clínicos sejam respeitados.


💬 E por que isso importa na prática do consultório?
Porque é o pediatra que indica, prescreve e defende o direito de acesso das crianças a esses tratamentos.


✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews)

📢 ATUALIZA AÍ

Vacinas contra meningite: você está oferecendo tudo o que pode?

Sempre que se divulga um caso de meningite na comunidade, instala-se uma compreensível comoção. Isso se deve ao seu conhecido potencial de letalidade e de desenvolvimento de graves sequelas. Para além do manejo do paciente já infectado, surge sempre a pergunta essencial: como evitar essa infecção?

A rigor, três agentes são os principais responsáveis pela quase totalidade das meningites/meningoencefalites bacterianas no Brasil e no mundo (quando de origem viral, os desfechos catastróficos são menos comuns):

  • Pneumococo

  • Haemophilus influenzae tipo b (Hib)

  • Meningococo

Quando falamos em prevenção, há duas abordagens possíveis:


1. Vacinação

  • Hib: protegida por vacinas pentavalente ou hexavalente (2, 4 e 6 meses), tanto na rede pública quanto privada.

  • Pneumococo: a melhor cobertura seria com a pneumo-15 ou pneumo-20 (rede privada), nos mesmos esquemas. A pneumo-10 disponível no SUS está desatualizada em relação aos sorotipos circulantes, mas ainda tem seu papel.

  • Meningococo:

    • No SUS: até junho de 2025, oferecia proteção apenas contra o sorogrupo C.

    • A partir de julho de 2025, o reforço aos 12 meses será feito com a vacina meningocócica ACWY (conjugada), ampliando a proteção para os sorogrupos A, C, W e Y.

    • Na rede privada: vacinas disponíveis contra os sorogrupos B e ACWY, com esquema de 3 e 5 meses e reforço após 1 ano.

💬  Importante: crianças que já receberam o reforço com MenC não precisam ser revacinadas com MenACWY. Estão protegidas. A substituição vale para as próximas elegíveis, com início em 1º de julho de 2025, segundo a Nota Técnica nº 77/2025 do Ministério da Saúde.


2. Quimioprofilaxia pós-exposição (somente para meningo e Hib)

Indicada após contato com casos confirmados, conforme critérios específicos para definir elegibilidade. Não há indicação de profilaxia para o pneumococo.


📍 Quer ler mais sobre o assunto? Confira o novo calendário de vacinação da criança e do adolescente da Prefeitura do RJ. 


✍️ por DC de Imunizações

📢 ATUALIZA AÍ

COVID-19 em crianças: o que muda na vacinação em 2025?

A vacinação contra a COVID-19 segue sendo recomendada e oferecida no SUS para crianças entre 6 meses e 4 anos, 11 meses e 29 dias, especialmente aquelas em grupos de risco para formas graves. A orientação do Ministério da Saúde é clara: proteger precocemente, com esquemas vacinais definidos por faixa etária, tipo de imunizante e condição clínica.

Veja como orientar: 


🔁 Crianças que completarem 5 anos antes de finalizar o esquema vacinal:

  • Se tiverem recebido ao menos 1 dose antes dos 5 anos, não precisam continuar o esquema.

  • Exceção: crianças imunocomprometidas devem completar as 3 doses.

🛡️ Grupos prioritários com risco aumentado para COVID-19 grave:

O Ministério da Saúde recomenda prioridade para crianças com:

  • Síndrome de Down

  • Paralisia cerebral

  • Diabetes mellitus

  • Doenças pulmonares crônicas (incluindo asma grave)

  • Doenças cardiovasculares

  • Doenças neurológicas crônicas

  • Doença renal crônica

  • Imunossuprimidos (por condição ou tratamento)

  • Doenças hepáticas crônicas

  • Anemia falciforme e outras hemoglobinopatias

  • Erros inatos da imunidade

  • Pacientes em uso de imunobiológicos

  • Obesidade grave

  • Prematuridade (< 32 semanas) e/ou < 1.500g no nascimento

💬 Vacinação simultânea? Sim! As vacinas contra COVID-19 podem ser aplicadas junto a outras do calendário, inclusive vacinas atenuadas. A única exceção é a vacina contra dengue, que deve ter intervalo próprio. 


📢 Teve evento adverso? Notifique! Todo ESAVI (evento adverso pós-vacinação) deve ser registrado em até 30 dias em: notifica.saude.gov.br


📍 Quer ler mais sobre o assunto? Estratégia de vacinação contra a Covid-19 - 2024 - 2ª edição


✍️ por Bárbara Neffá Lapa e Silva (Redatora do PediNews)

🌍 PEDIATRIA AO REDOR DO MUNDO 

Sepse pediátrica em 2025: menos rótulos, mais decisões inteligentes

A sepse continua sendo uma das principais causas de mortalidade em crianças menores de 5 anos. Ela ocorre quando uma infecção desencadeia uma resposta inflamatória desregulada, capaz de causar falência de órgãos. O grande desafio é saber quando essa transição ocorre e como reconhecê-la precocemente. Durante o XXI Fórum Internacional de Sepse, promovido pelo International Sepsis Forum e pelo Instituto Latino-Americano de Sepse, especialistas de vários países discutiram novas definições, ferramentas diagnósticas e abordagens individualizadas no cuidado da sepse pediátrica.


1. Quando a infecção deixa de ser apenas uma infecção?

O fórum trouxe um dado importante: a definição de sepse ainda varia entre os próprios especialistas. Veja os dados de um levantamento feito com o Pediatric Sepsis Definitions Task Force:


Conclusão: sepse, para a maioria dos especialistas, está associada à presença de disfunção orgânica sistêmica e não apenas à gravidade da infecção.


2. Phoenix Sepsis Score: um novo paradigma diagnóstico

Desenvolvido com base em mais de 3 milhões de atendimentos pediátricos, o Phoenix Sepsis Score foi publicado em 2024 na revista JAMA. É o primeiro escore internacionalmente validado para padronizar o diagnóstico de sepse e choque séptico em crianças.

O escore avalia quatro sistemas fisiológicos:

Critério para sepse: dois ou mais sistemas comprometidos.
Critério para choque séptico: pelo menos um critério cardiovascular.

🚨 Atenção: o Phoenix Score não deve ser usado como ferramenta de triagem precoce. Ele serve para classificar o quadro quando a disfunção orgânica já está instalada.


3. Como identificar risco antes da falência de órgãos?

A triagem continua sendo o maior gargalo no cuidado da sepse pediátrica. Novas ferramentas vêm sendo desenvolvidas para auxiliar no reconhecimento de crianças com risco de evoluir para disfunção orgânica.

Legenda: FR= frequência respiratória; FC= frequência cardíaca; SpO2= saturação periférica de oxigênio; PA= pressão arterial; PEWS= Escore de Alerta Precoce Pediátrico (do inglês, Pediatric Early Warning Score); TAMSI= Índice de Choque Médio Ajustado por Temperatura e Idade (do inglês, Temperature- and Age-adjusted Mean Shock Index)


🚨   Importante: Essas ferramentas se baseiam em sinais clínicos de alerta precoce e não incluem exames complementares . Permitem triagem ativa universal com objetivo de ativar protocolo de resposta rápida e medidas iniciais terapêuticas precocemente.


4. Cuidado com a fluidoterapia

Estudos recentes demonstram que altos volumes de soro administrados rapidamente podem agravar a lesão endotelial, especialmente do glicocálice vascular, levando a edema, acidose e disfunção de múltiplos órgãos.

Recomendações atuais:

  • Iniciar com bolus de 10 a 20 mL/kg, com reavaliações frequentes.

  • Se persistir a má perfusão após 40 mL/kg, iniciar precocemente vasopressores.

  • Usar ultrassonografia à beira-leito (POCUS – Point of Care Ultrasound) para avaliar hipovolemia versus disfunção miocárdica.

  • Preferência por cristaloides balanceados (como Plasma-Lyte).

  • Considerar infusão de albumina quando houver hipoalbuminemia < 2 g/dL associada à hipoperfusão refratária.

5. Nem toda sepse é igual: conheça os 4 perfis imunológicos

O consórcio canadense PHENOMS propôs uma classificação de subgrupos de pacientes com sepse, com base em padrões imunológicos e resposta clínica, facilitando decisões terapêuticas:

Essa estratificação favorece a medicina personalizada no manejo da sepse pediátrica.


🔴 Conclusão: e agora?

A sepse em pediatria é um desafio que exige velocidade, precisão e adaptação. O Phoenix Score foi um avanço na padronização do diagnóstico, mas a triagem precoce eficaz e o manejo individualizado seguem como obstáculos para melhores desfechos.


Para onde devemos ir:

·         Ferramentas/ Escores baseados em sinais clínicos para triagem

·         Perfil de biomarcadores e avaliação fenotípica para terapia individualizada

·         Abordagem mais criteriosa da fluidoterapia com apoio do ultrassom beira leito


Talvez a pergunta do futuro não seja “Essa criança tem sepse?”, mas sim: Essa criança está começando a piorar? Que tipo de resposta inflamatória essa criança apresentará? E qual é a abordagem mais adequada para esse perfil de paciente?


📍 Quer ir à fonte? Pediatr Emerg Care. 2020 | Ann Emerg Med. 2024 | Pediatrics. 2025


✍️ por Paula Traldi (DC de Emergência)

🌍 PEDIATRIA AO REDOR DO MUNDO 

Canal arterial em prematuros: ainda vale tratar todo mundo?

Nós, neonatologistas, sabemos o quanto a decisão de tratar ou não um canal arterial patente pesa na UTI neonatal. Por muito tempo, fechar parecia sempre a melhor escolha. Mas essa nova meta-análise do JAMA Pediatrics (2025) convida a gente a parar e pensar com calma.


Foram mais de 6 mil prematuros, a maioria com menos de 28 semanas, comparando tratamento ativo (farmacológico ou cirúrgico) ao longo da internação com manejo expectante. O que os dados mostraram? Mais mortalidade entre os tratados. Nenhum ganho claro em displasia broncopulmonar. Nem os subgrupos escaparam. Nem mesmo aquele recém-nascido que a gente, intuitivamente, acha que “se beneficia”.


É duro aceitar. Duro porque toca numa prática que a gente faz há anos. Duro porque parece cuidado, mas talvez não seja. Duro porque nem sempre temos outra coisa a oferecer e aí a intervenção vira um tipo de consolo técnico.


Mas talvez o maior ato de cuidado agora seja justamente esse: escolher não tratar por protocolo. Observar, individualizar, esperar com critério.


Nem todo canal precisa ser fechado. Nem toda conduta precisa ser automática. Às vezes, o melhor que a gente pode fazer é parar de fazer e começar a pensar.


✍️ por Lucia Arenas Viera (Associada da SOPERJ, Neonatologista da ME/UFRJ)

👁️ DE OLHO NO RJ

Óbitos por Oropouche no RJ: o que sabemos até agora sobre a a fisiopatologia da doença?

Crescimento acelerado de casos, três mortes confirmadas e novas evidências científicas pedem atenção redobrada

O que antes era considerado um problema restrito à região amazônica agora se espalha pelo Sudeste com rapidez surpreendente. Até 30 de junho, o estado do Rio de Janeiro já havia registrado 2.473 casos confirmados de febre Oropouche, contra 157 em todo o ano de 2024. Três mortes foram confirmadas e outras duas seguem em investigação.


A última vítima foi uma mulher de 53 anos de Nilópolis. Embora a maior parte dos quadros continue autolimitada, o cenário mudou. Casos graves vêm sendo relatados e a infecção precisa entrar no radar do pediatra.


Quer rever o assunto? Falamos sobre o esse tema na 1ª edição do Pedinews.


💬 O que sabemos até agora?

Um artigo publicado em junho na The Lancet Infectious Diseases descreveu o primeiro caso fatal com detalhamento histopatológico completo. Os achados chamam atenção:

  • Altíssima carga viral detectada em vários tecidos (incluindo cérebro e coração);

  • Lesões compatíveis com necrose hepática, nefrite intersticial, pneumonite e encefalite;

  • Resposta inflamatória heterogênea, com expressão aumentada de IL-6, IL-17A e IL-4 dependendo do órgão analisado;

  • Infiltrado por células T CD8+ e indícios de disfunção imune local;

  • Paciente com esteatose hepática e obesidade, o que levanta hipótese de comorbidades amplificando o risco.

Esses achados sugerem que o vírus pode causar disfunção multiorgânica mediada por inflamação desregulada, e não apenas um quadro viral leve.


E o que isso tem a ver com pediatria?

  • Casos de meningite e encefalite viral já foram documentados em crianças infectadas por Oropouche.

  • O início costuma ser abrupto: febre, dor de cabeça intensa, mialgia, náuseas, fotofobia e tontura.

  • A evolução pode ser rápida e, em áreas com transmissão ativa, a doença deve ser considerada no diagnóstico diferencial de síndromes febris agudas com sinais neurológicos.

  • Em crianças pequenas, o quadro pode ser sutil, com prostração, irritabilidade ou vômitos sem foco aparente.

Diante desse cenário, o CONSOPERJ 2025 trará uma miniconferência específica sobre febre Oropouche e outras doenças infecciosas emergentes, discutindo implicações clínicas, diagnóstico e perspectivas de prevenção. Anote na agenda!

📅 Sexta-feira, 1º de agosto de 2025 (sala 2)
Tema: Miniconferência: Febre Oropouche e outras doenças emergentes
🔗 Inscrições abertas em www.consoperj.com.br


✍️ por Leonardo Campos (redator do PediNews)

💭 PAUSA PARA REFLETIR

A solidão e os bebês reborn

A solidão foi declarada como uma epidemia global em Janeiro de 2025 pela OMS, e o crescente isolamento social tem se revelado uma ameaça grave à saúde física, psicológica e emocional das pessoas ao redor do mundo, principalmente de jovens e idosos, numa média de uma em cada quatro pessoas.


A solidão é um estado emocional que não se trata apenas da ausência física de companhia, mas da falta de conexão significativa com os outros. Vejo o fenômeno dos bebês reborn que vem aparecendo nas redes nos últimos tempos como um sintoma da sociedade contemporânea, onde o objeto se torna um depósito de afetos, fantasias e cuidados que, em muitos casos, não encontram lugar nos vínculos humanos, como uma forma de preencher um vazio afetivo. Além disso, essa busca por controle, previsibilidade e segurança nas relações revela muito sobre os tempos em que vivemos.


Esses bonecos hiper-realistas surgem e se popularizam em um contexto marcado por carência de afeto e conexão emocional, oferecendo uma experiência simbólica de cuidado, vínculo e presença. Diferente de um bebê real, o reborn não chora, não exige, não frustra. Ele oferece o conforto da maternidade e do cuidado, sem os desafios e imprevistos da realidade, das diferenças interpessoais e do peso e fardo que uma maternidade real carrega. Em alguns casos eles vem sendo utilizados para fins terapeuticos, como em lutos perinatais e neonatais, transtornos mentais e emocionais, demência como Alzheimer e até mesmo em cuidados paliativos, porém embora possam oferecer alívio simbólico e conforto temporário, nos convidam a refletir sobre o quanto estamos dispostos a substituir a complexidade do encontro humano por vínculos irreais, controlados e unilaterais.


Talvez o verdadeiro desafio contemporâneo não seja encontrar formas de escapar da dor através de intimidades sintéticas, mas reaprender a estar com o outro — com tudo o que isso implica de incerteza, diferença e vulnerabilidade — e, assim, reconstruir os laços que nos tornam verdadeiramente humanos.

✍️ por Patricia Mader (Pediatra Geral e Especialista em Psiquiatria e Psicanálise da Infância e Adolescência pelo IPUB/UFRJ)

🍞 SAINDO DO FORNO

Transfusão de plaquetas: menos é mais?

Novas diretrizes internacionais da Associação para o Avanço da Hemoterapia e Bioterapias (AABB) e da Colaboração Internacional para Diretrizes em Medicina Transfusional (ICTMG), publicadas no JAMA (2025), reforçam estratégias mais restritivas também na população pediátrica, com limiares claros para diferentes situações clínicas.


Confira alguns detaques do novo guideline:

Artigo enviado pela Lucia Arenas Vieira, associada da SOPERJ.


💬 Falando em transfusão, você já conferiu o novo manual de orientação da SBP sobre "Hemoderivados: indicações em Neonatologia? Leia mais.


Separamos outras publicações recentes que valem seu clique (e leitura com na mão):


Nova revisão sistemática reforça os benefícios da amamentação para a saúde da criança
O aleitamento materno está associado à redução do risco de diversas doenças na infância, embora o grau ideal de duração e o modo de oferta do leite materno ainda não estejam claramente definidos. Leia mais


Fale com as famílias, não sobre elas
Linguagem centrada no paciente melhora vínculo e adesão no cuidado pediátrico. Leia mais


Autoestima na adolescência: o que os cosméticos têm a ver com isso?
O novo Documento Científico da SBP alerta para o impacto emocional do uso precoce de maquiagem. Leia mais


Vareniclina no combate ao vape: dados iniciais animam
Entre jovens de 16 a 25 anos, a abstinência em 9–12 semanas foi maior com vareniclina + aconselhamento do que com aconselhamento isolado (51% vs 14%). Leia mais


AAP atualiza diretrizes sobre contracepção na adolescência
Novo documento reforça o papel do pediatra no cuidado contraceptivo, com foco em confidencialidade e aconselhamento centrado no adolescente. Leia mais


Obstrução por mecônio: nem sempre é fibrose cística ou doença de Hirschprung
Em estudo com 1844 recém-nascidos, 94,5% dos casos de obstrução por mecônio não tinham diagnóstico de fibrose cística ou doença de Hirschsprung — sendo mais comuns em prematuros ou de muito baixo peso. Leia mais


Fraturas em rotação da tíbia: precisa imobilizar?
Em crianças pequenas com fraturas estáveis, bota ortopédica facilitou o cuidado domiciliar e acelerou o retorno às atividades, sem aumento significativo de complicações. Leia mais


✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews)

🗨️ DO OUTRO LADO DA MESA

Parentalidade positiva: o cuidado começa em casa

- O que é parentalidade positiva?
De maneira geral, os princípios da parentalidade positiva incluem respeito, empatia e a criação de expectativas claras na construção do relacionamento entre pais e filhos. Parentalidade positiva é um estilo, uma escolha de como se relacionar. Envolve também o uso de disciplina não violenta e disponível às demandas e aos sentimentos das crianças. É preciso estar aberto e atento para conhecer as características dos filhos, considerar aspectos de cada fase do desenvolvimento, criar expectativas claras e realistas para cada etapa, incentivando a comunicação e a negociação.

- Por que ela é uma boa opção?
A família é o primeiro espaço de construção social da criança. Isso é muito importante.
A partir de uma abordagem participativa e atenta, vai se desenvolvendo uma relação positiva entre pais e filhos, com a criação de um ambiente de suporte ao aprendizado e – principalmente – reforço do comportamento desejado. Já existem estudos apontando que os cuidados responsivos estimulam conexões no cérebro, e as crianças se tornam mais capazes de criar vínculos emocionais positivos e aprender sobre as pessoas. O olhar, o cuidado e a atenção que a criança recebe qualificam as suas expectativas tanto em relação a si própria quanto aos outros. Estamos vivendo uma época com grande dificuldade de demonstrar emoções; não se pode mais sentir angústia, ansiedade, medo – todos esses sentimentos são “tratados” com forte medicalização, inclusive entre jovens.
Os pais podem ajudar as crianças a nomear suas emoções, dando espaço para suas manifestações. Criar espaço para pausas como estratégia para se acalmar. E dar EXEMPLO! Também é muito importante que as consequências sejam proporcionais ao episódio ocorrido, quando a criança fizer algo errado.

- Quais seriam as outras abordagens de educação?
No dicionário, os sinônimos de disciplinar são coibir, conter, controlar, reprimir. Mas disciplina vai muito além disso. Ela pode ser vista como ensinar, educar, cultivar e instruir. Os pais apoiam a criança para alcançar atitudes e habilidades que serão muito importantes ao longo da vida, como o autocontrole, direcionamentos, cuidado com os outros, fazer escolhas, maneiras positivas de resolver conflitos e ter compromisso. A disciplina violenta precisa ser abolida; o castigo corporal é considerado um tipo de violência familiar contra a criança, ainda muito frequente. Normalmente, é acompanhado de violência psicológica, com atos como xingar, diminuir, rejeitar e até ignorar. As consequências da violência contra a criança se manifestam a curto, médio e muito longo prazo. Além das marcas físicas decorrentes do castigo corporal, os sentimentos de medo e culpa acompanham a criança ao longo de sua caminhada. Será preciso desenvolver resiliência e receber muito suporte para que os danos sejam minimizados.

- Na série Adolescência, quais seriam as possíveis consequências se o menino tivesse recebido uma educação positiva?
Não podemos tentar achar culpados únicos para um problema tão complexo e prevalente na nossa sociedade. O modelo que melhor explica a ocorrência da violência foi trazido no início dos anos 2000 pela OMS. É o modelo ecológico, segundo o qual existiria uma balança entre os fatores de proteção e de vulnerabilidade em diferentes dimensões – individual, relacional, na comunidade e na sociedade.
Dessa forma, entendemos que as características da sociedade e da comunidade em que estamos inseridos influenciam sobremaneira a ocorrência da violência, tanto quanto as características do indivíduo e das relações que ele estabelece. Desemprego, pobreza e uso de drogas são fatores de vulnerabilidade, assim como uma sociedade machista, homofóbica e misógina. Ter recebido educação positiva seria um dos possíveis fatores de proteção para a não ocorrência de violência. Mas a balança é tênue, se considerarmos as normativas sociais que estamos vivendo, com muitos fatores negativos atuando. Isso impacta o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Por isso, é importante que o pediatra se envolva em pautas e políticas que possam colaborar com essas reflexões, em especial coibindo o castigo corporal e o tratamento degradante direcionado às crianças e adolescentes.

- Como os pais devem agir para praticar a parentalidade positiva? Pode dar alguns exemplos?
Nunca bater. Não existe possibilidade de aceitar o castigo corporal como forma de disciplina. Está errado e precisa ser abolido! Quando a criança estiver fazendo algo errado ou perigoso, redirecionar para o comportamento desejado. Dar opções. Elogiar muito! Lembrar que não é preciso perfeição!! Valorizar pequenos acertos em tarefas complexas. Reforço positivo é muito importante; não dar atenção ao que é errado. Estar presente, criando vínculos positivos de afeto e carinho, que serão lembrados e exercitados ao longo de toda a vida! O pediatra pode colaborar, orientando os pais sobre a importância dessa criação de vínculos positivos desde muito cedo.


💬 Você sabia? A Lei nº 14.826/2024 institui a parentalidade positiva e o direito ao brincar como estratégias de prevenção da violência contra crianças e adolescentes no Brasil.

✍️ por Anna Tereza Miranda Soares de Moura (Presidente da SOPERJ 2025-2027)

🏥 MANUAL (NADA) OFICIAL DO RESIDENTE

Cuidar de si também é parte da residência: o recado da R2 para o R1

"Não dá pra salvar o mundo sem bateria."
— Uma residente que aprendeu na marra.

A residência médica em pediatria é, ao mesmo tempo, escola, campo de batalha e lar. Vivemos intensamente a beleza de acompanhar a vida desde seus primeiros instantes — mas também enfrentamos jornadas exaustivas, decisões difíceis e um turbilhão de emoções para as quais, muitas vezes, não fomos preparados.

Entre uma prescrição e uma evolução, é comum que a gente se esqueça de uma tarefa essencial: cuidar de quem cuida.

Spoiler: o cansaço vem mesmo
Não tem como fugir. Vão ter dias em que você vai duvidar da escolha, vai se sentir no automático, vai esquecer onde deixou o crachá (de novo). Isso não significa que você não serve para isso. Significa que você é normal.
Cansaço não é sinônimo de doença, porém não devemos nos esquecer de que ele, de maneira sequencial e sem momentos de lazer, nos leva ao temido burnout! SIM, ELE EXISTE! EU JURO.
Em residentes, os sinais são silenciosos: perda de entusiasmo, dificuldade de concentração, distanciamento dos pacientes e até uma sensação de estar "no automático".
Identificar esses sinais é o primeiro passo. O segundo é se permitir buscar ajuda. Ninguém vive uma rotina saudável, física e mentalmente, focando todas as energias apenas no trabalho e nos estudos. Procure um profissional habilitado para ajudá-lo nessa questão e evitar desgaste emocional.

Autocuidado real (e possível)
Não da forma maluca que a gente vê por aí, pelas blogueiras. Você não precisa acordar às 5 horas da manhã, correr uma maratona, nadar, ir para a residência e ainda estudar 3h por dia. Isso não existe, nem aqui, nem na China!!!! Ou virar o Buda da medicina que acorda pleno às 6h para meditar e fazer yoga.
Autocuidado, na residência, pode ser tão simples quanto:
• Comer algo quentinho quando der.
• Dormir de verdade entre os plantões.
• Falar “tô mal hoje” sem achar que isso é fraqueza.
• Rir com um colega depois de um dia caótico.

São esses mini respiros que seguram a onda.

Se apoiar é força, não fraqueza
A residência pode ser pesada, mas ela não precisa ser solitária. Converse com seus colegas, com aquele preceptor que te ouve sem julgar, com quem te faz bem.
Mesmo em dias mais caóticos, vamos tirar um tempo, mesmo que de minutos, para nos sentarmos em volta da mesa com colegas de residência ou profissionais ali presentes e distrair a cabeça. Falar sobre besteiras e rir. O hospital é um ambiente para curar pessoas, e não para adoecê-las.
E, se o peso estiver demais, buscar apoio psicológico é um ato de coragem — e, sinceramente, um baita investimento em você.

Vai passar. E você vai crescer (muito)
Você vai terminar esse ciclo diferente de quem entrou. Você vai ver que o primeiro ano é o mais difícil, o mais cansativo e o mais desafiador. Mas tinha como ser diferente? Você está em um lugar completamente novo, com pessoas estranhas, mandando você fazer coisas que ainda não sabe fazer! AAAAA. Eu também gritava, chorava e queria desistir todos os dias, porém você vai ficar mais forte, mais sensível, mais você.
Estamos começando o segundo ano, continuamos “surtando” (kkkcringe), mas hoje podemos ver a evolução que tivemos e o quanto, cada vez menos, esses “surtos” acontecem. Porque, além de ter crescido de maneira teórica, você está mais habituado ao espaço físico, com os funcionários, e cada vez mais ágil. Só não se esqueça de que o pediatra do futuro que você quer ser começa cuidando de si no presente.

Com afeto e verdade,
Por pessoas que já estiveram em seu lugar e sabem que tudo vai passar.


✍️ por Isabella Loiola & Izabella Gomes (Residentes Redatoras do PediNews)

🏅 PRATA DA CASA

✨ Nossa comunidade é feita de gente que inspira. 

🏆 Dra. Maria Elizabeth Lopes Moreira recebe Prêmio Fernandes Figueira por estudo pioneiro sobre Zika e neurodesenvolvimento infantil


A Dra. Maria Elizabeth Lopes Moreira (Editora Adjunta de Publicações da SOPERJ e Redatora do PediNews) foi agraciada com o Prêmio Fernandes Figueira da Academia Nacional de Medicina, em reconhecimento à sua liderança no estudo das consequências da exposição pré-natal ao vírus Zika em gestantes assintomáticas durante a epidemia de 2015 a 2017 no Brasil.


O trabalho premiado (ainda inédito) intitulado “Neurodesenvolvimento de crianças nascidas de mães com infecção assintomática pelo vírus Zika durante a gravidez na pandemia 2015-2017: estudo de coorte” lança luz sobre um aspecto silencioso da epidemia: os riscos neurológicos mesmo em crianças cujas mães não apresentaram sintomas durante a gestação. Utilizando dados de 72 pares mãe-bebê com sorologia armazenada da época da epidemia, a equipe liderada por Dra. Maria Elizabeth demonstrou que crianças expostas ao ZIKV de forma assintomática apresentaram risco significativamente maior de atraso no desenvolvimento da linguagem, quando comparadas a crianças não expostas. A avaliação, conduzida com as Escalas Bayley-III, mostrou que quase metade (45,9%) das crianças expostas apresentaram atraso de linguagem, com um risco oito vezes maior em relação ao grupo controle (aOR: 8,56; IC 95%: 2,34–40,18). Os achados reforçam a urgência de estratégias de vigilância contínua e intervenção precoce para todas as crianças nascidas em áreas endêmicas, independentemente da presença de sintomas maternos.


A SOPERJ parabeniza com orgulho a Dra. Maria Elizabeth Lopes Moreira por mais esta contribuição exemplar à ciência brasileira, que alia rigor técnico, relevância clínica e impacto social no cuidado com mães e crianças expostas a arboviroses negligenciadas.


🏆 Pêlos no caminho do crescimento: um efeito adverso inesperado com a vosoritida


A Dra. Tatiana Sá Pacheco Carneiro Magalhães (DC de Genética), publicou em coautoria um inédito relato brasileiro de hipertricose associada ao uso de vosoritida em crianças com acondroplasia. O estudo, com 18 pacientes entre 2 e 10 anos, mostrou que 61% desenvolveram crescimento de pelos finos e pigmentados em face, abdome, costas e membros, sem sinais hormonais anormais. Embora reversível com a suspensão do medicamento, esse efeito não havia sido descrito nos ensaios clínicos. O achado reforça a importância do acompanhamento atento e da orientação prévia às famílias. Leia mais


✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews

🎬 EDUCAÇÃO CONTINUADA DA SOPERJ

Confira os últimos eventos gravados!

Trajetória na construção de evidências na pesquisa em Pediatra

A Dra. Maria Elizabeth Lopes Moreira compartilha sua inspiradora jornada na pesquisa pediátrica em conversa com a Dra. Anna Tereza Moura.

Trajetória na construção de evidências na pesquisa em Pediatra

Raciocínio Clínico em foco: doenças exantemáticas e seus diagnósticos diferenciais

Uma abordagem prática e detalhada dos principais desafios no diagnóstico das doenças exantemáticas. Imperdível!

Raciocínio Clínico: Doença Exantemática e seus Diagnósticos Diferencial - Dia 21 de maio de 2025


✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews)

E AÍ, DOUTOR(A)?

Laringotraqueíte em tratamento com adrenalina e corticoide, sem melhora do estridor. O que investigar?  

✍️ por Maria Eduarda de Barros Pardelhas (R2 de Pediatria do Instituto Fernandes Figueira - IFF/FIOCRUZ) e Marcio Nehab (Pediatra e Infectologista Pediátrico - IFF/FIOCRUZ)


Caso clínico: Lactente de 10 meses iniciou quadro de coriza, tosse e congestão nasal, sendo atendido inicialmente em Unidade de Pronto Atendimento com prescrição de sintomáticos. Após dois dias, evolui com desconforto respiratório e estridor, sendo levado à unidade hospitalar, onde exames evidenciaram acidose respiratória e radiografia de tórax com hiperinsuflação pulmonar. Foi iniciado suporte com nebulização de adrenalina e dexametasona intramuscular, sem melhora total do padrão respiratório, evoluindo com necessidade de ventilação não invasiva. Foi transferido para unidade de terapia intensiva para manutenção do suporte e vigilância, onde foi colhido painel viral que confirmou infecção por adenovírus e rinovírus. No sexto dia de internação, a despeito do uso de nebulização de adrenalina e de corticoterapia, ainda apresentava estridor.  


🧠 O que investigar?

RESPONDA AQUI :-)

👓 CALEIDOSCÓPIO

Bebê reborn

Para começar, um pouco de história que se inicia nos anos 90, quando as bonecas de vinil começaram a ser retocadas ou repintadas por colecionadores ou pessoas que queriam ter uma atividade de lazer. Como as bonecas eram recriadas, refeitas, ganharam o nome de reborn dolls. O mercado viu uma oportunidade e lançou kits de peças, tintas e adereços de bonecas, para esse público interessado que pode ser composto por colecionadores de bonecas, por aqueles que buscam um passatempo, um lazer, mas também existe a proposta do uso terapêutico dessas bonecas reborn. Esse uso é questionado e questionável, mas registro que existe.


Aqui, na tradução, boneca virou bebê, confirmando o aforisma: traduttore-traditore (tradutor-traidor). Aqui também essas bonecas ganharam muito destaque, seguindo os EUA e o Canadá e, como quase tudo em uma sociedade de consumo, virou moda.


Essa moda desperta sentimentos muito interessantes. Que doença é essa? Que coisa mais ridícula! Onde isso vai acabar? E eu que achava que já tinha visto tudo?


Acredito que possamos ver essa questão por diversos ângulos, e a tentativa de reduzir esse fenômeno a uma explicação simples vai ser insuficiente ou errada, porque é algo complexo.


Por um lado, poderíamos argumentar que “cada maluco com sua mania” e se não fere os outros, por que devo me meter, emitir opiniões ou criticar? O princípio da singularidade e da autonomia deveria assegurar a cada um viver como bem lhe aprouver, contato que não fira a autonomia ou liberdade dos outros e a lei. Esse nosso incômodo com bebês reborn pode ser um sinal do preconceituoso que vive dentro de nós. Advogamos o respeito à diversidade, mas a uma diversidade escolhida, selecionada, eleita, como aquela a ser protegida. Quando algo que foge ao padrão pré-estabelecido de diversidade surge, me choca, me faz ficar indignado. E quando ouço alguém argumentar como eu estou fazendo, meu reflexo será o de dizer- mas para tudo há um limite! Uma frase que não poderia ser mais conservadora!

Assim, por esse ângulo, o bebê reborn, que não faz mal a ninguém, cujo dono ou dona, não está incomodando ninguém, serve como um revelador de sentimentos que eu preferia não ter (preconceito, juízo de valor, rotulagem). Agradeçamos aos bebês reborn por essa reflexão e provocação.


Por outro lado, podemos ver esses bonecos e seus donos como um sintoma e não como uma doença. Um sintoma da solidão, da impossibilidade do contato físico, do afeto corporal, suprimido ou atenuado por uma cultura individualista, de performance que é sinônimo de competição, que se expressa pela visão do outro como um adversário permanente, quando não um inimigo. Uma solidão amplificada por uma sociedade eletrônica, impessoal, superficial, de contatos fugazes e não raro, fúteis. Falta nessa sociedade virtual o abraço, o silêncio, o olhar. Falta a tridimensionalidade da vida! Nesse contexto, o bebê reborn nos mostra não apenas o adoecimento individual, mas é um alerta para um adoecimento coletivo.


Atacar o bebê reborn e seus donos é perder ótimas oportunidade de pararmos para pensar em nós próprios e, mais ainda, na nossa coletividade, na nossa tribo. Pensar e buscar meios de atender ao que parece ser um grito de socorro.


 Jogar pedra na Geni é fácil e tira o incômodo de nos revisitarmos.  Preocupante vai ser quando surgirem os pediatras reborn!


✍️ por Roberto Cooper (Redator do PediNews)

🗓️ AGENDA PEDIÁTRICA

Próximos eventos

Rio de Janeiro - RJ

O CONSOPERJ 2025 chega com uma novidade que promete transformar a forma como discutimos ciência na prática: a sessão de Casos Clínicos Interativos. Serão 16 casos selecionados para apresentação oral, com especialistas debatendo ao vivo com o público. Não é preciso ter o diagnóstico fechado, o foco está no raciocínio clínico e na construção coletiva do saber.

Antes da abertura oficial, os cursos pré-congresso, no dia 31 de julho, oferecem uma oportunidade única de aprofundamento em temas essenciais da pediatria.  Os cursos têm vagas limitadas e são uma excelente oportunidade para atualização prática e troca com colegas e especialistas.


Participe do maior encontro da pediatria fluminense. Ciência viva, prática e em movimento. Confira a programação completa: www.consoperj.com.br/programa.asp

Porto Alegre - RS

Belo Horizonte - MG

Recife - PE

Queremos ouvir você!

Queremos deixar o PediNews cada vez melhor, e para isso, precisamos do seu feedback.


Ao registrar sua opinião abaixo, você será direcionado(a) para uma nova aba onde poderá, se quiser, complementar com um comentário. 


💡 Agradecemos desde já, sua opinião faz toda a diferença!

O que achou dessa edição do PediNews?

🗓️ AGRADECIMENTO

Equipe Editorial PediNews

Por trás de cada edição, temos uma equipe dedicada de pediatras e redatores que transformam temas complexos em conteúdos práticos e leves.


🙋‍♂️ Leonardo Rodrigues Campos – Editor-Chefe  LinkedIn
🙋‍♀️ Maria Elisabeth Lopes Moreira – Editora Adjunta  Lattes
🙋‍♀️ Fernanda Pinto Mariz – Redatora Científica  Lattes
🙋‍♂️ Roberto Cooper – Redator Científico Lattes
🙋‍♀️ Bárbara Neffá Lapa e Silva – Redatora Científica Lattes
🙋‍♀️ Izabella dos Santos Gomes – Redatora Científica (Médica Residente) Lattes
🙋‍♀️ Isabella Loiola Lima – Redatora Científica (Médica Residente)  Lattes


Juntos, queremos que você se sinta em casa ao ler a PediNews – como uma conversa com um colega de profissão. 


📩 Quer divulgar sua pesquisa? Envie sua conquista para o Prata da Casa🏆 


Obrigado e até a próxima! 👋

\n\n\n\n

Email Marketing por ActiveCampaign